Opa, quero até ver qual vai ser a desculpa dos “anti-cinema nacional” dessa vez. É que o discurso desse povinho é sempre o m
esmo, que o nosso cinema só se foca na miséria do país, e isso mancha a imagem do Brasil lá fora, né? Parece piada, eu sei. Mas vou tentar ver por outro ângulo. Digamos que, ok, seria bom se o nosso cinema tivesse mais variedade. O meu problema com aqueles que reclamam de como filme nacional só mostra “pobre na favela” é que, em quase 100% dos casos, esse é o mesmo público burguês que ama Se Eu Fosse Você de paixão. Sim, porque apresentar a realidade do país é péssimo, mas inventar uma classe média alienada que nem existe (a classe média americana pode até viver em mansões; a nossa, não) não é demais? Ou, sei lá, ainda no quesito Se Eu Fosse Você, não é meio revoltante um filme que tenha como uma das últimas frases: “quem diz que felicidade não se compra é porque não conhece o endereço da loja”?

Enfim, com o mais novo filme nacional a chegar em dvd, não há brechas pra esse tipo de discussão. Em As Melhores Coisas do Mundo a diretora Laís Bodanzky (do ótimo Bicho de Sete Cabeças) retrata com extremo cuidado e inteligência a vida de adolescentes brasileiros. Que, cá pra nós, poderiam ser adolescentes e qualquer nacionalidade. É um filme de tema universal. O protagonista é Mano, um garoto de 15 anos normal de classe média alta de verdade, não uma de mentirinha. Acompanharemos vários dos problemas típicos dessa idade de transição: a des


E há vários temas atuais, que estão em destaque agora, presentes no filme. Quer dizer, eu fui o único que pensou no caso Geisy-Uniban com aquela tramóia da menina que é perseguida após uma foto sua semi-nua cair na rede? Pode ser que o roteirista não tenha ligado uma coisa à outra, ou pode ser que isso tenha sido escrito/rodado antes mesmo do escândalo (o filme já tava em pré-produção há três anos), mas que caiu como uma luva, ah, caiu. Sem falar na febre da internet, twitter, blogs, orkut, o diabo à quatro. Pra muita gente a internet é apenas um item a mais, uma ferramenta útil, mas pra minha geração a i


O protagonista ta longe de ser um santo, o que já coloca As Melhores Coisas do Mundo anos luz de vários filmes sobre o tema. Apesar de ter várias qualidades, Mano também ta cheio de p



Mas o filme não fala apenas de adolescentes. Fala também sobre adultos, e sua impossibilidade aparentemente crônica de lidar com os adolescentes. Gosto da cena em que vários pais se reúnem no colégio e discutem sobre a fase em que seus filhos estão passando, tentando encaixá-la em uma classificação definida. Quer dizer, é mania resumir a adolescência em frases de efeito, né? Mas tudo na vida é tão complexo e gigante, que, sinceramente, nada pode ser e
studado e entendido por completo. E não dá pra encaixar todo menino e menina de 15 à 17 anos a um mesmo grupo de características definidas. O filme mostra isso. Mostra que adolescentes tem sim seus vícios em comum, mas, ao mesmo tempo, um é completamente diferente do outro. Além disso, de quebra, surge uma outra discussão interessante: quando um professor(a) e um aluno(a) tem um caso, quem seria o “culpado”? O professor, que se aproveitou de seu posto de superioridade e de sua maturidade pra conquistar o aluno? Ou, em tempos de maior liberdade entre adolescentes, o professor
acaba sendo a vítima? Ou talvez não haja culpa, não sei. Só sei que a cena dos ovos é linda, muito emocionante. E tudo embalado por “Something”, dos Beatles, que parece que foi um parto pra produção conseguir os direitos. Enfim, ri e chorei nas varias vezes que assisti As Melhores Coisas do Mundo, me envolvi mesmo. Se eu fosse você não perdia. Só não vale ir conferir com a desculpa de que é filme nacional, então vou cumprir minha parte, vou fazer a boa ação do dia. O cinema brasileiro já passou da hora de precisar da pena de alguém. Agora, se for pra assistir “As Melhores Coisas” com a desculpa de fugir do lixão americano que é jogado aos montes por aqui, aí tudo bem. Essa desculpa é mais do que aceitável.

